terça-feira, 25 de maio de 2010

Um Mundo de ponta-cabeça!


     Recebi por e-mail essas tirinhas que vos apresento agora. Ao vê-las, lancei logo meus pensamentos a um estado  alucinatório, da qual pretendo, por Deus, jamais me encontrar, mas que noto que muitos já assimilaram. O mundo está de ponta-cabeça, invertido, intragável. Porquê? Porque sumiram os valores, as noções de respeito e afeto se arrastam as sombras dessa sociedade cuja lógica de existência é ter e não ser, é privilegiar coisas e não seres que dependem e só existem se houver algo além da estática, aquém da mecânica. Esses seres, nossas crianças, sem esse respaldo, crescerão atônitas e moldadas a essa vestimenta da banalidade, da hipocrisia, da alucinação de que tudo pode, de que tudo é.




quarta-feira, 24 de março de 2010

A Lógica do desastre não é a salvação.


       As autoridades falam em atender as necessidades do nosso planeta, em relação as catástrofes físicas e climáticas que estão ocorrendo recentemente, matando milhares de pessoas anualmente. Buscamos de todas as maneiras sanar este problema organizando eventos de alto orçamento, com autoridades mundiais - ministros, diplomatas, presidentes - e especialistas de todos os tipos, cada um com teorias proporcionais e desproporcionais para justificar as catásrofes naturais e as condições inesperadas do tempo que atingem o nosso planeta. Esquecemos, dessa forma, que existem outras necessidades a serem trabalhadas e, que apesar de não serem devastadoras, falo em relação ao cenário físico do nosso planeta, são nefastas em relação as mortes que proporcionam e a disseminação das doenças que causam. Falamos dos vírus, das bactérias, falamos das patogênias que passam despercebidas aos olhares humanos. olhares críticos, olhares científicos e olhares de consideração são o que faltam para extinguir esses problemas tão básicos, e alguns de tão fácil prevenção. A médica Zilda Arns, morta em um desastre natural, era coordenadora da pastoral da criança e divulgava Brasil afora meios simples e baratos de prevenir doenças como a diarréia, a desnutrição e a desidratação, causadoras de muitas mortes em crianças pobres. Ensinamentos básicos como ferver a água, como fabricar o soro caseiro e a utilização da homeopatia salvaram muitas vidas nas comunidades em que a pastoral da criança visitava.
       Mas qual o motivo de trazer essa comparação a tona. Torna-se necessário desmistificar governos, fundos humanitários de ajuda e principalmente as politicas da ONU. Não seria muito mais lucrativo, para grandes indústrias do desastre e da doença, barganhar a salvação no meio de um desatre ou pagar pela cura com um remédio milagroso, ou por uma instituição médica que proporcione status 5 estrelas em categoria de saúde?
       É verdade, isso realmente acontece... Descreve fabulosamente Naomi Klein a sua jornada no processo de reconstrução da cidade de New Orleans pós o desastre do Katrina, analisa as políticas, ou a falta destas, para sanar problemas como abrigar a população, retirar os corpos e escombros da cidade, distribuição de alimento e água, tudo, tudinho, feito por corporações que recebiam por alugueis, deste as máquinas, até a cova comunitária para abrigar os corpos valores exorbitantes do governo dos E.U.A. Alias, vale resaltar, que antes do furacão, o governo Bush sequer analisou ou possibilitou verba para os planos de evacuação e emergência caso um evento inesperado desse ocorresse, e como ocorreu,ralata Klein, pagava 12.000 por corpo retirado e enterrado para uma companhia de cadaveres fazer um enterro miserável e ainda deixar corpos em decomposição meses e meses debaixo de escombros.
       A lógica do desastre foi essa, e continuará sendo, permitir a eliminação das classes baixas e impossibilitadas de se proteger e pagar proteção, eliminar a raça negra com a omissão de socorro e finalmente, após o trágico episódio, permitir uma reconstrução a preços exorbitantes, para enriquecer empresas que mais tarde patrocinarão os objetivos mais escusos dos governos, como guerras e projetos nucleares, ou a ida a Marte; essa reconstrução se dará para aqueles que puderem pagá-la, ou então, os que não puderem, receberão suas casas, suas avenidas, seus hospitais, mais precários do que eram antes, para novamente permitir o ciclo vicioso que o capitalismo de controle exerce sobre nós, os que colocam no cargo tais governantes, em tese, claro.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pensar e Conhecer: sobre escritos de Hannah Arendt


A querela pensar e conhecer são uma das grandes disputas existentes entre os modernos na filosofia da educação. Conhecer e pensar são a mesma coisa? Nossas escolas e universidades as tratam como iguais ou dessemelhantes? Quais os danos que esses problemas podem levar para a educação?
São estas indagações que tentaremos apresentar neste artigo, para isto, partiremos para o estudo da pensadora Hannah Arendt, mais especificamente no seu trabalho sobre “a banalidade do mal”. Neste artigo a autora nos apresenta o carrasco nazista Eichmann em seu julgamento em Jerusalém. De acordo com a autora o auto- oficial nazista não é nenhum gênio do mal, ou muito menos um ser possuído pelo demônio, como nos atesta a nossa tradição. Para a surpresa de todos, Arendt nos mostra uma face do mal completamente nova. O mal é banal.
Mas em que consiste essa banalidade? Consiste na ausência de reflexão, na irreflexão. Arendt percebeu que o auto-oficial nazista só respondia frases feitas, clichês. Para esta, ele só fazia aquilo que lhe mandavam. Se mandassem matar ele matava. Era uma ordem. E como ordem ela deveria ser cumprida. Algo típico de uma educação militarista. Entretanto essa educação militarista se confunde com a nossa, visto que a educação moderna não privilegia o ser de pensamento, mas sim o ser de conhecimento. Mas qual a diferença entre pensar e conhecer.
O conhecer é uma tarefa que possui uma finalidade como desvelar o mundo, descobrir o mundo. Este trabalha com a verdade. Etimologicamente verdade deriva do termo grego chamado alethéia, que quer dizer desvelar ou revelar, mostrar o que se encontra oculto. A tarefa do conhecimento é o desvelar. Enquanto que o pensar não possui finalidade, ele é um eterno caminhar, é uma incessante busca desinteressada e sem regras estipuladas. É uma busca por significados e não por verdades. Segundo Arendt, assemelha-se ao mito de Penélope, a qual enquanto esperava o seu marido Ulisses, tecia sua teia, e a noite, a desfazia. Neste sentido, percebemos que o pensar esta intimamente ligado com o filosofar muito mais do que com o conhecimento, pois filosofar é um caminhar eterno e pensar também é um caminhar. Entretanto a tradição filosófica, basicamente Platão e Descartes não perceberam isso. Para esta a tradição falhou. Platão por ter confiado demais na verdade, ou seja no conhecimento e Descartes por ter desprezado os sentidos. Os que mais se aproximaram foram os romanos, os quais definiram o pensar enquanto um afastamento.
Não devemos entender esse afastamento como uma fuga do mundo. É um distanciar-se do mundo para poder compreendê-lo, não podendo ser “entendido como uma omissão para com as coisas do mundo , mas sim como uma abertura, como uma interrupção do cotidiano. Não é fuga nem descompromisso, mas um abandono que favorece a possibilidade de distanciar-se e reaproximar-se das coisas com um novo olhar .(MARCELO, p. 05)
A tradição platônica e cartesiana pode ter errado, mas para Arendt, Sócrates sabia muito bem o que estava fazendo. Ele não se deixou levar pelo profissionalismo do pensamento instrumental. Ele transitava ente o sensível e o pensar. Suas perguntas e questionamentos eram simples e concretos. A simplicidade de suas perguntas demonstrava a complexidade das respostas. Quando Sócrates pergunta o que é a pedra ou a cadeira, ele pergunta pelo conceito, algo geral, mas acima de tudo, ele faz um trabalho de exercício do pensar. Suas repostas sempre são aporias, e é nestas aporias que residem à grande singularidade de Sócrates, pois como sabemos a aporia é o confronto de duas verdades estabelecidas, ou seja, de um conhecimento determinado, mas para Sócrates o importante não é o conhecimento, mas sim a busca, pois esta sim, constitui-se em um verdadeiro pensar.
Alguns podem argumentar que Sócrates era um pensador distraído e que como todo filosofo só quer saber de contemplar. Não podemos nos deixar enganar por este pensamento, visto que as questões socráticas eram discutidas na Ágora, e que quando Sócrates fala de justiça, de virtude, ele demonstrava a sua preocupação moral.
Mas o que Hannah Arendt quer com Sócrates? Para Arendt a reposta sobre as ações de Eichmann encontram-se justamente em Sócrates. Eichmann tinha conhecimento do que fazia, conhecimento de suas ações, mas não pensava sobre ela. Arendt levanta a hipótese que se Eichmann tivesse feito o exercício socrático do pensamento ele não teria praticado atos impiedosos e covardes.
Hannah Arendt esta chamando atenção para uma educação iluminista que privilegia o conhecimento acumulativo nas escolas faculdades e universidades, no lugar de um pensar. A reflexão não mais interessa. O importante é conhecer. Não interessa saber o porquê das somas internas de um triângulo se iguala dois retos, mas sim, decorar e encontrar a hipotenusa. Não interessa saber porque acontece o movimento de translação da terra e suas conseqüências para a nossa vida, mais sim que a terra gira em torno do sol e pronto.
Descartes nos dizia que somos seres pensantes, mas em verdade percebemos que não somos seres pensantes, ma sim seres de conhecimento reprodutivos. Somos máquinas reprodutoras de saber binominais. Só conhecemos através da verdade ou falsidade. Da afirmação ou da negação. Nos conhecemos a citar Hegel, Quando negamos o outro. A alteridade nos define e nos educa.
A crítica de Arendt é para uma educação que não ensina o homem a ver o mundo de forma simbólica. A vê-lo com um novo olhar de Thauma, de Pathos. Uma educação alienante e reprodutiva que não privilegia o pensar.